Notícia
No Brasil, comprar sem dinheiro virou sinônimo de normalidade. Parcelar é a regra, não a exceção. O problema é que, para boa parte das famílias, isso deixou de ser apenas um recurso temporário e virou uma espécie de modo de vida, um ciclo de consumo parcelado que compromete o orçamento, a estabilidade emocional, relações familiares e até os planos de longo prazo.
Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mais de 78% das famílias brasileiras estavam endividadas em maio de 2025. Em janeiro deste ano, esse número havia recuado levemente para 76,1%, mas já voltou a subir nos meses seguintes. Dentre elas, 29,1% estavam com dívidas em atraso e 12,3% disseram não ter condições de pagar o que devem, ou seja, estão inadimplentes sem expectativa de recuperação.
O principal vilão? O cartão de crédito, presente em quase todas as carteiras e responsável por cerca de 88% das dívidas das famílias. Isso reforça o que já sabemos: o problema não é só o acesso ao crédito, mas o uso desordenado e a falta de orientação sobre como utilizá-lo de forma consciente, ou seja, a falta de educação financeira.
A sedução do parcelamento
Vivemos em um país onde o parcelamento virou estímulo ao consumo imediato. A promessa de "10 vezes sem juros" ou "leve agora e comece a pagar só depois do Carnaval" convence até os mais cautelosos. E quando somamos várias dessas pequenas parcelas, temos uma dívida invisível corroendo o orçamento mensal.
Segundo a CNC, em janeiro deste ano, 20,8% das famílias brasileiras comprometiam mais da metade de sua renda só com o pagamento de dívidas. Isso significa que milhões de pessoas já estão vivendo com um orçamento engessado, empurrando compromissos para o mês seguinte, sem conseguir planejar nem mesmo o básico.
A cultura do consumo parcelado, incentivada por ofertas sedutoras e pela falta de alternativas reais de planejamento, nos leva a trocar tranquilidade por urgência, e segurança por ilusão de acesso, estamos parcelando o presente e hipotecando o futuro.
Educação financeira também deve ser política pública
A realidade é que o brasileiro não se endivida apenas por falta de responsabilidade, mas, também, por falta de orientação. Vivemos em uma sociedade que oferece crédito com facilidade, mas pouco se ensina sobre como utilizá-lo de forma consciente. Sem educação financeira na escola ou no ambiente familiar em casa, muitos acabam tomando decisões sem conhecer os riscos ou pensar no futuro.
Por isso, precisamos tratar educação financeira como prioridade nas políticas públicas. Ela deve estar nas salas de aula desde os anos iniciais da educação básica, não como uma cartilha bancária, mas como uma prática cidadã.
Devemos ensinar:
- Como montar um orçamento doméstico;
- O que é o custo efetivo total de um financiamento;