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Tiradentes foi levado à forca careca e sem barba. Uma imagem diferente das ilustrações que estampam os livros de história e das estátuas dedicadas a ele. O feriado de 21 de abril, que neste ano caiu no domingo, marca a morte do símbolo da Inconfidência Mineira.
Joaquim José da Silva Xavier foi herói, mas não santo. Para além do mártir, Tiradentes era tagarela, namorador, teimoso, corajoso, apaixonado por livros e defensor do conhecimento. Um homem comum, que talvez até tenha sido traído pela mulher.
Além de dentista ("tira dentes"), ele teve outras profissões, como minerador, comerciante e alferes. Sobre a aparência física, no entanto, quase não há relatos da época.
"Um herói sem rosto. Sem qualquer registro ou retrato verídico, artistas e escritores criaram suas próprias versões de como ele poderia ser", explicou o historiador André Figueiredo Rodrigues, professor da Faculdade de Ciências e Letras de Assis da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Com essa lacuna, ao longo da história, a imagem de Tiradentes foi associada à figura de Jesus Cristo. Era preciso transformar o homem em mito e torná-lo conhecido. Segundo Rodrigues, no final do século XIX, Angelo Agostini recebeu a missão de desenhar o alferes.
"Até aquele momento, Tiradentes não havia sido representado visualmente. E, para se tornar um personagem respeitado, era fundamental que visualmente ele apresentasse barba e bigode. Para atender a esses requisitos, Agostini estudou Tiradentes, cuja representação na época ganhava contornos religiosos, e se baseou na pintura 'Cristo carregando a cruz', de Antoon van Dyck", explicou.
O movimento do qual Tiradentes fazia parte era anticolonialista e queria a instalação da República. Os mineiros planejavam o fim da dominação portuguesa sobre o Brasil.
Joaquim Xavier foi enforcado no Rio de Janeiro, em 1792, por traição à coroa, quando tinha 45 anos. Esquartejado, teve as partes do corpo expostas em diferentes locais públicos de Vila Rica, atual Ouro Preto. A República só foi proclamada no Brasil em 1889.
"Desde a segunda metade do século XIX, mais precisamente após a proclamação da República, os aspectos de um Tiradentes passivo e humilde foram recuperados e ganharam destaques nas artes e na literatura", relatou Borges, que é autor de um livro sobre a construção da representação do inconfidente.