Notícia
Dezenas de romeiros e membros da Irmandade do Divino Espírito Santo erguem com esforço e técnica um mastro com mais de 20 metros de altura, decorado ao gosto do capitão do mastro, mas em obediência às cores da festa religiosa que no vale do Guaporé completou 123 anos. Os buchichos ao redor, bem ao lado da igreja São Judas Tadeu, em Surpresa, a mais de 200 quilômetros de Guajará-Mirim em viagem de voadeira, exprimem temor e admiração.
Não é para menos. O mastro, ninguém soube dizer exatamente o tamanho, pesa muito. Decorado nas cores azul, branca e vermelha, é erguido com a ajuda de “tesouras” feitas de varas de madeira. Com a pomba branca e a bandeira, ele compõe a simbologia do maior evento religioso da Amazônia, depois do Círio de Nazaré (PA). Ao seu redor, fiéis fervorosos colocam velas acesas e pedem bênçãos.
“Para o Divino Espírito Santo nunca se diz não, sempre se diz sim”, manifesta o mestre de foliões, João Gomes Lopes, ao falar sobre o difícil trabalho de erguê-lo, sem causar nenhum acidente em toda a centenária história do Divino. Com 70 anos, e há seis na função, João saiu de casa no dia 7 de abril e voltou a Surpresa, onde mora, no dia 31 de maio, após percorrer a romaria do Divino por mais de 50 dias.
É um sacrifício, admite, e por causa da idade vai discutir com a família se continua a dizer sim nessa atividade, que consiste em organizar e tomar conta dos foliões – jovens de 8 a 14 anos que entoam cantos de louvor a cada chegada do batelão com a coroa nas comunidades ribeirinhas. “É responsabilidade demais com esses meninos”, diz.
Os romeiros fincaram o mastro no sábado (3) à noite, véspera do Pentecostes, festa do calendário cristão que comemora a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos, celebrada 50 dias depois da Páscoa. Mil pessoas, no cálculo da Polícia Militar, acompanharam esta ação, enquanto na pequena igreja fiéis católicos se acomodavam para a missa a ser celebrada.
Essa liturgia é o momento principal do encerramento da romaria do Divino Espírito Santo, realizada em quase 40 comunidades do Vale do Guaporé, na fronteira do Brasil com a Bolívia. Antes de firmarem o mastro, os fiéis percorreram com velas as poucas ruas de Surpresa para cumprir parte da liturgia consagrada numa tradição herdada dos portugueses, reservada para os dias finais dos festejos religiosos.