Notícia
Em 24 de agosto de 2006, uma decisão histórica fez com que os livros didáticos precisassem ser reescritos. É que, naquela data, a União Astronômica Internacional (IAU) batia o martelo quanto à definição de Plutão: o que até então era o nono planeta do Sistema Solar foi rebaixado de categoria e passou a ser considerado um planeta-anão.
A decisão não aconteceu assim, do dia para a noite. Foram anos de intenso debate, com argumentos válidos dos dois lados do "ringue", e o rebaixamento de Plutão rende polêmica até hoje. Uns acreditam que a redefinição do planeta para a categoria de planeta-anão foi uma vitória do raciocínio científico, enquanto outros defendem que o pequeno mundo nos confins do Sistema Solar é especial demais para não ser oficializado como um planeta.
A votação envolveu 424 astrônomos, com Mike Brown, pesquisador da Caltech, anunciando oficialmente: "Plutão não é um planeta. Há, oficialmente, oito planetas no Sistema Solar". Já Alan Stern, líder da missão New Horizons, da NASA, declarou na ocasião: "Estou com vergonha da astronomia. Menos de 5% dos astrônomos do mundo votaram. Essa definição 'fede', por razões técnicas".
O que é preciso para ser considerado um planeta
De acordo com a IAU, há três categorias principais de objetos no Sistema Solar:
- Planetas: os oito grandes mundos desde Mercúrio até Netuno
- Planetas-anões: qualquer objeto circular que não seja um satélite, e não tenha "limpado" a vizinhança em torno de sua órbita
- Pequenos corpos: todos os outros objetos que orbitam o Sol
E segundo a nova definição, planeta é o objeto que:
- É esférico
- Orbita o Sol, mas não é satélite de outro planeta
- Não compartilha sua órbita com nenhum outro objeto significativo
Sendo assim, Plutão acabou sendo rebaixado à categoria de planeta-anão porque, ao seu redor, há um "mar" de outros objetos, já que sua gravidade não é intensa o suficiente para atraí-los e, assim, limpar sua órbita. E como Plutão, "haverá centenas de planetas-anões", disse Brown na época — e, de fato, vários mundos foram categorizados como planeta-anão após a redefinição da IAU.
Arte compara as dimensões de Plutão e sua lua Caronte com o planeta Terra (Imagem: Reprodução)
Doze anos depois, a revolta continua
Para Alan Stern, a resolução de 2006 é falha. Na época, ele declarou que "é evidente que a zona da Terra não está limpa", uma vez que nosso planeta (bem como outros do Sistema Solar) abriga objetos em torno de sua órbita, como asteroides, por exemplo. Sendo assim, os critérios usados para rebaixar Plutão à condição de planeta-anão seriam vagos e errôneos. E a discussão tomou novo fôlego com a missão New Horizons, liderada justamente por Stern.
Lançada em 2006, a sonda chegou à órbita de Plutão em 2015 e, durante meses, estudou o planeta-anão e suas luas, proporcionando descobertas sem precedentes. "Quando vemos um planeta como Plutão, com estruturas familiares — montanhas de gelo e céu azul com nuvens — nós naturalmente nos vemos usando a palavra 'planeta' para descrevê-lo", disse Stern. "Há um poder psicológico na palavra 'planeta' que ajuda as pessoas a entenderem que aquele é um lugar importante do espaço", opina.